sexta-feira, 27 de junho de 2008

Relances sonâmbulos

Cyd Charisse (1922-2008) - Não vi esse Party Girl de Nicholas Ray de que falam os verdadeiros cinéfilos, mas acho que ninguém mencionou o melancólico It's Always Fair Weather, a que assisti há uns tempos na Cinemateca (às 3 e meia, como é bom fingir que não se tem nada para fazer e ir ver um filme assim a meio da tarde...). Antes de o ver, a única imagem que tinha era uma foto a preto e branco na pág. 23 de Jacques Rivette - Secret Compris, do número de dança no ringue de boxe, com as famosas pernas bem em evidência. E já antes de ver o filme adivinhava a importância destas palavras de Hélène Frappat não só para o musical mas para todo o cinema que se joga entre mundos heterogéneos: "La comédie musicale ne pose pas d'autre question: comment l'acteur glisse-t'il du naturel de la vie à l'artifice de l'art, de la gestuelle maladroite (quotidienne) à la grâce (miraculeuse) du ballet? Comment devient-on Cyd Charisse?" A pergunta retine ainda.

Albert Cossery (1913-2008) - Nunca li uma única dessas frases escritas mensalmente, mas depois de o ter visto nesta foto postada pelo Zé Mário tenho a certeza de o ter visto: nas escadas desse mesmo hotel La Louisiane onde pelos vistos morava há décadas (e aparentava-o). Lembras-te, Zé Maria?

Klaus-Michael Grüber (1941-2008) - Também não vi um único espectáculo seu (a única vez que um veio a Portugal foi em 1992, tenho alguma desculpa). E não me lembro agora de fotos, mas há pelo menos uma imagem vívida que o Jorge me descreveu: a de espectadores enregelados apesar das mantas no estádio olímpico de Berlim deserto, com Michael König (que conheço só do Ninguém duas vezes) ao longe a correr na pista, nesse Winterreise de 1977. Nesta terra em que ninguém dá por nada, imprescindível o obituário feito por Augusto Seabra.

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