Remexendo na ferida, aqui vai a citação completa:
É das canções de amor mais desesperadas que já alguém escreveu: "Deixa-me ser (...) [preocupação filológica com a elipse] o ombro do teu cão"...Eu gosto muito do Camané e de quase tudo o que escreve o João Bonifácio (o entrevistador). E é verdade que o que eles dizem, se assim parece um exercício surrealista, faria todo o sentido se a tradução estivesse certa. Mas tal como saiu é tão hilariante quanto deprimente, e esta ficará no top 3, (s)ombreando com a legenda que diz "Vamos fazer uma torrada" antes de os copos tilintarem (nunca vi, será lenda urbana?) e com outra que vi na encenação (e tradução) de Carlos Afonso Pereira da peça Fausto Morreu de Mark Ravenhill, onde uma personagem anunciava a sua saída com um "Estou fora daqui". Quem me dera.
Ele queria ser o ombro do cão dela porque [suspense] queria era estar ao pé dela [ombro a ombro], não queria que ela o deixasse [como quem abandona o ombro amigo de um cão]. E nessa fase da canção existe o desespero [que leva a dizer coisas de que depois nos arrependemos]: nem que seja uma mosca à tua volta, [que pousasse n'] o ombro do teu cão, qualquer coisa [desde que não tenha sentido], mas que eu possa estar ao pé de ti [é isso].