Passou a semana passada na Cinemateca - e, não há fome que não dê em fartura, acaba de sair em dvd como extra da edição da Arte de La Belle Noiseuse - o raro e lindíssimo filme que Claire Denis dedicou a Jacques Rivette, no contexto da série Cinéma, de notre temps. Jacques Rivette, le veilleur é fundamentalmente um diálogo entre o cineasta e o crítico Serge Daney, uma deambulação (no pensamento e na cidade) divida em duas partes, O Dia e A Noite (as duas forças - a lua e o sol - de cujo confronto nasce o cinema de Rivette). É o encontro de duas inteligências: Rivette mais esquivo, sorumbático, felino, por vezes teorizante, Daney arriscando interpretações, inventando-as ao ritmo da conversa, podendo ser ao mesmo tempo perverso e sem maldade.
O diálogo, até nos seus silêncios, é fascinante, mas há também a destacar um inteligente trabalho de montagem dos excertos dos filmes. Um exemplo: quando Rivette diz que não quer, despudoradamente, violar o actor, penetrar na sua intimidade, Claire Denis introduz como possível contradição a cena de L'Amour fou em que Jean-Pierre Kalfon rasga as roupas com uma lâmina e depois com uma tesoura. Outro: não é na altura em que Rivette fala da música de Piazzola a acompanhar o percurso de motocicleta de Pascale Ogier em Le Pont du Nord, olhando para as estátuas de leões, que vemos essa sequência; ela aparecerá mais tarde, quando Rivette compara a novidade da Nouvelle Vague ao Impressionismo. Porquê? Só pode ser porque a sequência dos leões é antecedida de um plano de Bulle Ogier com o metro em baixo que inegavelmente cita La Gare Saint-Lazare de Manet:
1 comentário:
Tão bonito.
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