quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Artista-tipógrafo



Quero usar esta expressão antiga que o Manuel Gusmão aplicou a William Blake numa crítica do último Ípsilon para descrever o Olímpio. Era uma das pessoas que mais sabia e gostava de livros, sem separar aquilo que dizem do objecto propriamente dito, fosse uma colecção de teatro dos anos 60 ou o poeta mais recente, ou o mais esquecido. Gostava de adivinhar, folheando um livro ao acaso, que tinha sido paginado por ele. Trabalhámos juntos nos números (sempre zero) que houve da revista da Abril em Maio, e no início dos Livrinhos de Teatro dos Artistas Unidos, onde falámos de formato, papel, fonte, maiúsculas, minúsculas e small caps, acentos em grego antigo, espaçamentos e itálicos, páginas em branco. Muitas provas trocámos de um lado para o outro, na Brasileira, no Jardim da Estrela, na Feira do Livro, em casa dele e da Mariana. Mas também falávamos de filmes - e de blogues. Do pouco que escrevi no Blogue de Esquerda II o Olímpio leu, ou disse que leu, e encorajou-me a continuar - mas, como ele, acho que sempre gostei mais de ser leitor.
Estive fora uns dias e fiquei contente agora ao ver que já escreveram sobre ele aqui ("bibliotecário de babel" também lhe servia...), aqui (tão bem, sem estar para aqui com biografices que não dizem nada do que é importante) e aqui [e ainda em mais estes sete sítios].
Deixo também ali em cima a bonita capa do nº 2 da revista Intervalo: o tema era "O Testemunho".

2 comentários:

Anónimo disse...

Nem meio mundo de permeio amortece a tristeza de uma noticia assim. O meu teclado Australiano sem acentos nao faz jus as muitas noites que recordo, na Abril em Maio, na Fala-So, pelo Bairro Alto. Curiosamente, as imagens que guardo do Olimpio sao as mais antigas. Conversas nem sempre sobre livros, copo na mao, comentario sagaz, um certo ar troceiro. Eram as noites do Bairro, ja parece ha muito tempo.
A distancia deve ser como a velhice, nao nos prepara para nada mas vai anestesiando (pouco).
Um abraco forte, Francisco.
Nuno Vasco

FF disse...

Pois é, não tem tanta importância onde estamos nem há quanto tempo foi, ficámos todos assim tristes. Abraço deste lado do mundo.
Francisco