Remexendo na ferida, aqui vai a citação completa:
É das canções de amor mais desesperadas que já alguém escreveu: "Deixa-me ser (...) [preocupação filológica com a elipse] o ombro do teu cão"...Eu gosto muito do Camané e de quase tudo o que escreve o João Bonifácio (o entrevistador). E é verdade que o que eles dizem, se assim parece um exercício surrealista, faria todo o sentido se a tradução estivesse certa. Mas tal como saiu é tão hilariante quanto deprimente, e esta ficará no top 3, (s)ombreando com a legenda que diz "Vamos fazer uma torrada" antes de os copos tilintarem (nunca vi, será lenda urbana?) e com outra que vi na encenação (e tradução) de Carlos Afonso Pereira da peça Fausto Morreu de Mark Ravenhill, onde uma personagem anunciava a sua saída com um "Estou fora daqui". Quem me dera.
Ele queria ser o ombro do cão dela porque [suspense] queria era estar ao pé dela [ombro a ombro], não queria que ela o deixasse [como quem abandona o ombro amigo de um cão]. E nessa fase da canção existe o desespero [que leva a dizer coisas de que depois nos arrependemos]: nem que seja uma mosca à tua volta, [que pousasse n'] o ombro do teu cão, qualquer coisa [desde que não tenha sentido], mas que eu possa estar ao pé de ti [é isso].
9 comentários:
E isso para já não falar no documentário que a RTP passou em tempos (início dos anos 80, creio) em que o mesmo Brel passa toda a canção a declarar o seu amor a uma JANELA: bela, morena, ...:
Nous étions deux amis et FANETTE m'aimait
La plage était déserte et dormait sous juillet
Si elles s'en souviennent les vagues vous diront
Combien pour la FANETTE j'ai chanté de chansons
Faut dire
Faut dire qu'elle était belle
Comme une perle d'eau
Faut dire qu'elle était belle
Et je ne suis pas beau
Faut dire
Faut dire qu'elle était brune
Tant la dune était blonde
....
MST, divertida mas irritada
Ai Marieke, Marieke... Não sei se queria ter lido isto.
Tb gosto muito de uma cena num filme em que dizem: "Let's watch Oprah" com a tradução: Vamos à opera.
p.s. sei que ainda não te enviei o texto.
abraços
que se lixe... a ignorância do camané, que confunde sombra com ombro, só me faz gostar ainda mais dele. pode-se amar uma canção sem conhecer com precisão as suas palavras. e lá estarei, na sombra uterina (expressão roubada ao pedro mexia) da plateia, para renascer com a sua voz.
...e aqueloutro filme cuja legenda anunciava que alguém ia tirar o elenco da perna :D (cast)
MST, mv: pois é, dói.
Ana,
eu também gosto do Camané, mas a mim este erro faz-me gostar um bocadinho menos... O que provavelmente não tira nada à sua interpretação: diz o Bonifácio, em crítica onde já vem bem escrito o nome da canção, que é o momento alto da noite (e eu acredito).
Também vi o post do Mexia, mas é engraçado que ele fala de "escuridão" e não de "sombra uterina" - o que daria em camanês um "ombro uterino", metáfora bem mais original ;) É que agora estou mais sensível à palavra, porque mexe com o nome deste blog: fui investigar e parece que dá "Fábrica Escapular" - vou pensar nisso.
Aos restantes: aceitam-se mais sugestões, a melhor ganha um link para o Babel Fish!
Só uma opinião de quem lá esteve, o momento alto da noite foi mesmo via Tony de Matos, «O vendaval passou», que graças a Deus não precisa de qualquer tradução :-)
Tu que és, digamos, fã do Shyamalan devias conhecer a que vem na caixa do dvd do Signs:
"O primeiro filme de extraterrestres feito de noite."
("M.Night Shyamalan's First Alien Film.")
O Camané nunca soube falar estrangeiro e o João Bonifácio é das melhores pessoas a escrever em Portugal, é um deleite incrível lê-lo. Ainda bem que essa polémica já passou.
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