Não sou grande espectador de dança e não faço ideia se determinado vocabulário coreográfico é interessante, ou datado, ou original. Mas sou sensível ao pensamento quando o consigo ver. Lembro-me bem de uma peça do João Fiadeiro, vista na cave d'a Capital: chamava-se I'm Sitting in a Room Different From the One You Are In Now e era possível seguir todo o raciocínio do princípio ao fim, feito de gestos, sons, fita autocolante e fotocopiadora. Ou Corpo de Baile, de Miguel Pereira, que foi há menos tempo mas de que me lembro menos, com o vestir e o despir, o indivíduo e o grupo, as pessoas e as cadeiras.
Caruma de Madalena Victorino é talvez um espectáculo mais emotivo do que estes dois, menos conceptual e irónico. Mas não deixa de haver nexos nítidos que se vão tecendo: a recorrência dos grupos de mulheres + rapaz (as mães com os filhos pequenos, mas entre elas um pai; as mulheres a tentar vestir o casaco aos rapazes, mas entre elas um homem; as bailarinas, mas um é um rapaz); ou os movimentos "expressionistas" do início, com os dedos dos pés e das mãos bem separados, a lembrar os ramos secos de árvores que surgem no fim. Eles dançam, andam a pé, de bicicleta e de patins, tocam, cantam e falam; eu normalmente preciso de ir pensando, e senão encontro um ponto de apoio no espectáculo perco-me depressa noutras cogitações. Só que aqui há ainda outras hipóteses: um momento de emoção pura como o das crianças que mal andam deixadas no centro do palco pelas mães; ou o simples prazer de ouvir uma história como a da "Maria dos Prazeres" e o seu cão, entre Gracia e o cemitério de Montjuic.
1 comentário:
olha que porra, n pude ver. podias ser bom amigo e ir avisando as pessoas dos bons espectáculos que lisboa vai oferecendo. a malta agradece.
filipa rr
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