segunda-feira, 19 de março de 2007

Mas, na manhã seguinte...

Porquê "usine" e não "atelier", fábrica e não oficina? Sarah Bernhardt, segundo Rivette e muito antes de Warhol, refere-se assim ao lugar onde o artista se produz a si mesmo. O teatro enquanto máquina construída a uma escala não-humana, povoada por uma multidão de operários, uns mais aristocratas do que outros.
A fábrica é o que do teatro os espectadores não vêem, daí a escuridão. São os bastidores, os camarins, os corredores, as catacumbas. A luz de qualquer modo é sempre artificial, o teatro é um mundo dentro do mundo onde nem sempre se sabe quando é dia e quando noite.
Na sala diante do palco a sociedade exibe-se, estratificada, da plateia aos camarotes e balcões, mas na sombra conspira-se e transpira-se, o trabalho é secreto, fabril e febril.
Mas estamos no fim do século XIX. E não é por esses dias que aparece outra fábrica, de sombras mas agora projectadas, a maquinaria à mostra e não escondida, exibindo-se como novidade e conquista da arte na era da reprodutibilidade técnica? Gorki chamou "mundo cinzento" a este teatro virado do avesso.

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