Este é bem capaz de ser o primeiro post escrito em conformidade com o novo acordo ortográfico, que o novo Ministro da Cultura decidiu recentemente apoiar. Nada de surpreendente: se a ideia era "fazer mais com menos", porque não começar por deitar fora algumas letras que não servem para grande coisa?
Em apenas dois parágrafos temos "contrafação", "ótimo", "ator", "abstração", "atores". A sensação é estranha (e não duvido de que um dia se entranhe). Eis um texto com a sintaxe e semântica do português europeu cuja leitura é sobressaltada de vez em quando por uma gralha que não existe. São as mesmas palavras mas não bem as mesmas. Como as notas falsas de que o filme comentado trata? Seria demasiado fácil. Não, antes como nos filmes os mortos-vivos ou extraterrestres que andam no meio das pessoas normais e só se distinguem por um pequeno pormenor: não sangram, ou têm os olhos vermelhos, ou pele a mais atrás das orelhas... (O Žižek fala disto para explicar o objet petit a lacaniano, mas eu ainda não percebi nem isso agora vem ao caso.)
O engraçado é que o Ivan Nunes escreve "fato" em vez de "facto", embora a maior parte (?) dos falantes de português europeu pronuncie o c (como em "espectadores", que se escreve assim tanto cá como no Brasil). Trata-se portanto de uma palavra que em princípio ficaria na mesma, e este "em princípio" é um dos problemas deste acordo: para se fazer a revisão de um texto vai ser preciso perguntar ao autor como é que ele pronuncia determinadas palavras. A menos que o Ivan esteja a seguir a norma brasileira, onde "facto" se escreve e continuará a escrever "fato"... mas não, mais abaixo está "oxigénio" e não "oxigênio".
Enfim, como às vezes me calha corrigir textos alheios, já sei que vai sobrar para mim.
1 comentário:
E o que é que fazemos ao fim-de-semana do post anterior, que no Brasil não levaria hífen?
Vai doer tanto, Francisco...
Enviar um comentário