Foi assim que:
1. O Alexandre citou uma frase do jogador da Alemanha Lukas Podolski (ainda antes daquele cruzamento para o Schweinsteiger), que terá dito "O futebol é como o xadrez, mas sem os dados". Ora não tenho dúvidas de que depois de comparar os dois desportos, o jogador do Bayern de Munique se preparava para dissertar sobre o espectáculo dos Nature Theater (em inglês: "Football is like chess. But No Dice..."), que certamente não perdeu quando se apresentou em Novembro passado no festival Spielart da cidade onde trabalha - mas isto foi antes de ser boçalmente interrompido por praticantes do gotcha-jornalismo.
2. A Cristina citou primeiro em alemão e depois em tradução portuguesa o cartaz que figura no romance inacabado de Kafka e que dá o nome à companhia de Nova Iorque. Comparando com a tradução inglesa que o NTO apresenta no seu site, ao mesmo tempo explicitação da origem e manifesto, é fácil ficar intrigado com a ausência da palavra "nature" no original e em português (ou com a sua presença no inglês): fala-se só de "grande Teatro de Oklahoma", e não de "great Nature Theater of Oklahoma". Onde se terá metido o "Naturteater"? Uma breve e incompleta pesquisa ensinou-me que "Teatro Natural (?) de Oklahoma" é o título do capítulo do romance onde aparece o cartaz, só que foi dado por Max Brod e não por Kafka. Mas será que na versão editada por Brod aparece "Naturteater" no texto do cartaz, ou só no nome do capítulo? E Kafka não revisto fala alguma vez desta "natureza"? Ou será que o NTO fez esse acrescento mínimo à tradução, como quem não quer a coisa (e em quem inventou que havia uma versão de 11 horas do espectáculo não me espantaria esta pequena manipulação)? O que é certo é que Benjamin, no seu Kafka (Hiena, trad. Ernesto Sampaio) de que a Cristina também falou, dá importância exactamente a essa característica do Teatro de Oklahoma:
mau actor será quem, por não estudar devidamente o seu papel, se esquece das palavras ou dos gestos que a representação requer. Para os membros da companhia de Oklahoma, porém, esse papel é a vida precedente de cada um. Daqui a "natureza" deste teatro natural. Os seus actores são seres redimidos. (p. 63)E não é No Dice, ao pôr em cena conversas telefónicas de membros da companhia com amigos e familiares, precisamente esse teatro da "vida precedente de cada um"? É aliás com estas palavras de Kelly Copper, a co-directora, que termina o artigo do New York Times citado abaixo: “'We are taking it as seriously as possible; it’s our life,' she said. 'If it is a joke, it’s a serious joke.'” Como o humor de Kafka.
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